Vinte anos atrás, a Woodman Labs não sabia, mas tinha acabado de criar uma nova era no mercado do audiovisual — nesse caso, o de câmeras de ação. Feitas justamente para praticantes de esportes radicais, como surfistas, paraquedistas, snowboarders e todo o tipo de atleta que buscam a emoção, a GoPro foi pioneira nesse quesito, inovando o modo de filmagem, porém com uma coisa na cabeça: embora essas câmeras dessem, muitas vezes, a visão em perspectiva da pessoa, não era possível ver em volta da ação.
Por isso, em 2019, foi lançado o primeiro modelo com lente omnidirecional da casa — em outras palavras, a câmera de ação com ângulo 360. A GoPro Max se tornou um sucesso instantâneo entre os usuários, que agora podiam capturar todo o ambiente, escolhendo o que entra ou não no vídeo final. E finalmente, seis anos depois desse lançamento, a GoPro atualizou seu portfólio com a Max 2, que promete não só melhorar a sua antecessora, mas também ser a GoPro definitiva.
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Agora que passei dois meses testando a câmera para valer, posso dizer para vocês que ela acerta muito, embora escorregue em algumas coisas.
Compacta, leve e prática
Uma das primeiras mudanças desse modelo para o primeiro é no seu tamanho, já que o corpo da Max 2 é ligeiramente menor. Seus 64 mm de largura pelos 69.7 mm de altura a tornam mais compacta, porém levemente mais pesada, pesando cerca de 195 gramas, 20 gramas mais que a primeira versão.
Suas lentes omnidirecionais deixaram as laterais da câmera, agora ficando centralizadas no corpo do aparelho, em uma posição simétrica, agradando a nós que morremos com toc. Obrigado por isso, GoPro. Falando nelas, as lentes verdadeiras estão sob essa proteção aqui, o que é uma boa mudança já que o primeiro modelo deixava elas expostas, quebrando facilmente ao cair. Por conta da vedação para água, é preciso uma forcinha para trocá-las, girando no sentido anti-horário, porém nada que incomode, afinal… melhor isso do que entrar água.
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A frente e o verso da Max 2 também foram atualizadas, priorizando tanto as novas funções da câmera quanto seu design. Assim como na Hero 13 Black, a “frente” da câmera 360 possui uma grade de dissipação de calor, junto da luz de status, que indica se a gravação está rolando ou não. Aqui também estão dois dos seis microfones, que estão espalhados também na parte de cima, ao lado do botão do obturador.
Na traseira, além do dreno do microfone e de outra luz de status, temos sua pequena tela LCD de 1,82″, que não mudou de um modelo pro outro, o que não era ruim, já que a Max 2 exige um bom espaço para caber as duas lentes. No lado esquerdo, temos o alto-falante da câmera acima do botão de modo, e do lado direito sob a porta vedada, temos a entrada USB-C, slot para cartão microSD classe A2 V30 e entrada para a bateria. Embaixo, o encaixe magnético e a rosca universal de ¼ se mantêm presentes, podendo também abaixar as abas para encaixe em acessórios da linha GoPro.
Gravações em 8K
Assim como nos modelos anteriores, a Max 2 possui uma interface simples e intuitiva de se mexer, onde acredito que vá agradar a gregos e troianos — tanto entusiastas da fotografia quanto quem só quer ligar, gravar e partir para a ação. Arrastando a tela para baixo, você tem acesso a funções base da câmera, como o controle de voz, ligar ou desligar o bipe (que dá pra abaixar o volume nas configurações), quickcapture, trava de orientação e o modo de câmera 360 ou de lente única. Jogando pra esquerda, você tem um status rápido do cartão SD e pra direita, configurações e emparelhamento via bluetooth.
- Wi-Fi 6 (2,4 GHz e 5 GHz)
- Bluetooth
- BLE 5.3
- GPS
Nas configurações de câmera, é possível alternar facilmente nas predefinições de gravação quanto para configurá-las, deixando de acordo com seu modo de uso. De fábrica, skate, ponto de vista e modo selfie vem prontas, porém é possível criar novos modos facilmente, alternando entre vinte e três deles, sem opção de nome personalizável.
Se você é do tipo que não quer só ligar a câmera e gravar rápido, mas sim tirar o máximo de proveito das capacidades dela em cada situação, é nessa parte que vale a pena prestar mais atenção e fuçar. É possível alterar o perfil de gravação entre padrão e GP-Log, para quem prefere fazer correção de vídeo manual na pós-produção. No modo 360, é possível gravar em 4K a 24, 30, 60, 90 ou 100 frames por segundo, esse último caso você queira algo legal em slow. Tem também opções em 5.6K a 60, 50, 30 ou 25fps e 8K a 30, 25 ou 24fps.
- 360 em 8K: (7.680 x 3.840) a 30/25/24 qps
- 360 em 5,6K: (5.376 x 2.688) a 60/50/30/25 qps
- 360 em 4K: (3.328 x 1.664) a 100/90/60/50 qps
No menu Protune, dentro da câmera, também dá para mexer em configurações básicas, como velocidade do obturador, exposição, balanço de branco, ISO, cor em tempo real, nitidez da imagem e algo bem legal, que é escolher qual das lentes você quer mexer na exposição, sendo sempre a que está em tela a que foi modificada. Caso você queira um arquivo 4K com a maior qualidade, é possível alterar até a taxa de bits ali mesmo, porém veja se compensa, pois o arquivo irá aumentar de tamanho consideravelmente.
Caso você queira gravar em 1080p, é possível somente no modo Lente Única, o modo clássico da GoPro, só que na câmera 360. Aqui, é possível alternar além da resolução, a proporção de imagem, que varia de 16:9, 9:16 e 4:3, perfeito para redes sociais, stories e afins. Em 4K nessas três proporções é possível gravar de 24 a 60fps e em 1080p a 60fps somente em 16:9 ou 9:16. Por conta da lente omnidirecional, nesse modo é possível alterar entre cinco tipos de visão: linear, ampla, ultra-ampla, Max SuperView e a Max HyperView, que embora englobe grande parte da cena, é a que mais distorce a imagem, adequado para esportes em área aberta.
- Lente única em 4K: (16:9) (3.840 x 2.160) a 60/50/30/25/24 qps
- Lente única em 4K: (9:16) (2.160 x 3.840) a 60/50/30/25/24 qps
- Lente única em 4K: (4:3) (4.000 x 3.000) a 60/50/30/25/24 qps
- Lente única em 1080p: (16:9) (1.920 x 1.080) a 60/50 qps
- Lente única em 1080p: (9:16) (1.080 x 1.920) a 60/50 qps
Aliás, já aproveitando que estamos falando em resolução de imagem: a GoPro tem reforçado bastante que a Max 2 entrega o verdadeiro 8K, sem nenhum upscaling de imagem ou IA. É um grande salto, já que o primeiro modelo 360 entregava “somente” 5.6K de resolução, mas dessa vez é prometido 21% a mais de resolução se comparado a modelos como o Osmo 360 e a Insta 360 X5.
Em ambientes claros, a Max 2 entrega uma ótima imagem, graças não só ao seu sensor CMOS de 1/2.3 polegadas, mas também pelo processamento de imagem GP2. Tanto nos vídeos de lente única quanto nos 360 em 8K, a imagem nítida é destaque na gravação, entregando cores vivas e bastante nitidez na imagem final, que poderão ser cropados dependendo de onde você for postar, sem perda de qualidade.
Enquanto a Osmo 360 e a X5 gravam na resolução de 3840p cada lente, a Max 2 engloba a gravação em 4216p, chegando mais perto da resolução real em 8K. Caso você queira gravar em slowmotion, é só selecionar o modo 4K100fps, que funciona somente no modo 360.
Porém, em ambientes noturnos, a câmera ainda peca um pouco. O processamento ao tirar uma foto ainda não é equivalente ao gravar vídeo, perdendo um pouco de nitidez em ambientes menos iluminados, um pouco de culpa do tamanho pequeno do sensor. Ambientes com iluminação intermediária tendem a ter uma boa imagem se comparado com lugares mais escuros, porém é aquilo: se você gravar tudo no formato LOG, é possível alterar a iluminação na pós-produção com maior facilidade.
Na parte de timelapse, é possível se divertir bastante com a Max 2. Infelizmente, morando em São Paulo, não foi possível capturar o rastro das estrelas no céu, mas foi possível brincar um pouco com os modos de pinturas de luz e luz de veículos, podendo alterar o comprimento do rastro, com exemplos práticos para você fazer um vídeo mais divertido. Caso você esteja num lugar longe da cidade onde seja possível observar o céu noturno com maior facilidade, dá para programar a GoPro para ligar sozinha e fazer o timelapse, o que é algo muito prático e útil. Pena que não estarei com essa câmera nas minhas férias!
Ótimo som (se não usar fones de ouvido)
Os seis microfones espalhados pela câmera servem para a captura de áudio 360, que também pode ser alternado para gravação em estéreo. A captação deles é bem boa, principalmente se você estiver usando fones de ouvido. No vídeo deste review, é possível ter uma noção do quão alto é o ronco do motor do Porsche, que não chega a estourar o som do vídeo.
Uma das novidades no modelo 360, que já existe tanto na Hero 12 quanto na 13, é a possibilidade de parear fones de ouvido na câmera, usando o microfone deles para narrar ou descrever o que você está fazendo, sem ter que se preocupar com o microfone interno. A conexão é bem simples de fazer, até aqui não há segredo algum, porém… a qualidade do som vai depender do fone, e no meu caso deixou um pouco a desejar, como esperado do microfone de um fone de ouvido.
Em ambiente controlado dá pra ter uma noção de como é o resultado desse recurso em uma situação ideal. Imagino que funcione melhor caso você use fones junto de um capacete, afinal… praticar esportes com fones de ouvido, dependendo de qual for, é pedir pra perdê-los. Geralmente um microfone dedicado vai ser mais recomendado.
Como editar arquivos 360?
Gravadas as imagens em 360, agora quero editá-las… onde faço isso? Bem, tem algumas maneiras para se fazer isso. A primeira delas é usar plug-ins para o Premiere ou DaVinci Resolve, softwares de edição e edição de cor. A segunda é editando seus vídeos diretamente pelo Quik, app da GoPro para smartphones, caso queira soltar vídeos rapidamente sem ter que usar o computador. Lá, é possível escolher quadros-chave, selecionando o que você quer que tenha destaque no resultado final. Também é possível escolher um objeto selecioná-lo com os dedos, para que a IA do aplicativo o rastreie dentro do vídeo. Caso queira usar o giroscópio do celular, também tem o MotionFrame, onde você direciona o celular para o melhor ângulo na edição, e por fim o modo POV e CameraFX, usadas em ocasiões especiais de vídeo.
A terceira via é baixando o GoPro Player no seu PC, onde é possível fazer as mesmas coisas do Quick, mas focado na edição de vídeo. Caso você utilize a versão 10/11 do Windows, provavelmente terá que baixar o CODEC HEVC, disponível na Microsoft Store para compra. No GoPro Player (além da extensão no Premiere), é possível direcionar a imagem da câmera para onde quiser, mas sem as transições disponíveis no Quik.
Ótima bateria — caso use no frio
Nos testes de duração de bateria, a GoPro Max 2 não difere muito das antecessoras. Embora em longas gravações ela ainda esquente bastante — problema esse velho de guerra —, levou um tempo até que ela descarregasse 100%. Com meia hora de uso no modo 360 a 5.6k30fps, ela foi de 100% a 66%, desligando por conta do calor com apenas 1h02m, quando já estava com 28% de bateria, descarregando completamente com 1h22m.
- Bateria: Enduro de 1.960 mAh
- Temperatura operacional: -10°C a 35°C
- À prova d’água até 5 metros
Em 8K, a história é outra. Com meia hora de uso no modo 360 8k30fps, a Max 2 desligou porque ficou quente, estando ainda com 61% de bateria. Com 50 minutos, ela desligou de novo por conta do calor enquanto lhe restava 30%, com ela descarregando completamente com 1h08m. Os dois testes foram feitos com uma temperatura média de 28 a 30 graus, sem luz solar direta, então imagino que nessas condições a câmera possa descarregar mais rápido.
A bateria Enduro de 1.960 mAh até aguenta o tranco, porém sua principal função não é durar no extremo calor, mas sim no frio. Fiz um teste com a GoPro dentro de um freezer, onde aguentou bravamente temperaturas na casa dos -20 graus celsius, onde descarregou 30% em apenas meia hora ali dentro.
Segundo as especificações dela, sua temperatura operacional é de -10 a 35 graus celsius, ou seja: a Enduro cumpre bem o seu papel, mas é mais indicada para quem pretende usar para esportes extremos com muito vento, na neve, ou até na água, ambientes que vão ajudar a câmera a controlar melhor a própria temperatura. Se a sua ideia é usar ela para registrar em 360º aquela pelada no meio da tarde, ou então, pior ainda, um futvôlei na praia, esquece. Grandes chances dela superaquecer e desligar.
O lado negativo é que para carregar essa bateria vai um tempinho. Usando um carregador padrão, a câmera levou quase 2h30 para carregar 100%, tempo demasiadamente longo caso você precise gravar algo urgente, tendo que recorrer a uma segunda bateria de emergência, que não é nada barata, saindo numa média de R$ 570 em varejistas. Para uma empresa de produção de vídeo, que geralmente compra equipamentos em redundância, a facilidade de trocar a bateria por uma segunda ou terceira já carregadas é um benefício, mas para usuários comuns o gasto já é bem menos interessante.
Vale a pena?
Este é o primeiro ano em que a GoPro não lançou um modelo sucessor da linha Hero no mercado, este que tem seu nome consolidado há vinte anos (não estou contando a Lit Hero, por conta da proposta diferente desse modelo em específico para as principais da casa). Dando preferência para o lançamento da Max 2, ao meu ver a marca acertou em cheio deixando o ano de 2025 para sua nova 360, que estava não só atrasada em seis anos, mas que também pegou o melhor dos modelos anteriores e juntou tudo num só lugar, no qual é possível usufruir tanto o modo lente única quanto no modo 360.
Compacta, leve e prática, a Max 2 talvez seja uma das melhores câmeras da empresa, mesmo que escorregue no quesito bateria e iluminação noturna, talvez o calcanhar de Aquiles da marca. O preço sugerido de R$ 4.799 no Brasil é salgado, porém já é possível encontrá-la custando R$ 3.799 em algumas lojas, o que deve abaixar nos próximos meses, valendo a compra se você tiver grana sobrando. Se eu tivesse dinheiro, teria uma já que pelo que percebi, vai demorar pra marca lançar outra câmera 360. Pelo menos a espera de seis anos valeu a pena!
Fonte ==> TecMundo
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