Um jogo que se propõe a misturar dois dos gêneros mais proeminentes dos videogames tem tudo para dar certo. Meio soulslike, meio metroidvania, Mandragora: Whispers of the Witch Tree é, ao menos até agora, a criação que promete colocar a Primal Game Studio, uma tímida produtora húngara, nos holofotes do segmento independente.
Não há muito o que enrolar aqui: se você simpatiza com um dos dois estilos de jogo que mencionei acima, Whispers of the Witch Tree precisa entrar no seu radar. Mesmo não reinventando nada do que já vimos em Death’s Gambit, Salt and Sanctuary e Ender Lilies, por exemplo, só para refrescar a memória com alguns nomes, o game tem o seu valor.
Mandragora faz o básico bem-feito e cozinha só com os ingredientes essenciais: é o “arroz com feijão” sem enfeites no prato – o que, para muitos adeptos do gênero, como este redator que vos escreve, já é mais que suficiente. Confira a nossa análise completa adiante!
Combate satisfatório, desafio justo
A proposta de Mandragora visa equilibrar elementos que compõem o que hoje conhecemos como soulsvania. O combate em scroll lateral é punitivo, tem peso no controle e oferece inúmeras formas de jogar, graças à ampla seleção de classes e builds que podem ser montadas (e refeitas) para um mesmo personagem.
Você pode, por exemplo, moldar um piromante que também sabe se virar no corpo a corpo – no meu caso, com um cetro. Foi justamente essa build que escolhi para desbravar as quase 50 horas de conteúdo que a jornada resguarda a quem deseja fazer quase tudo – um tempo que pode dobrar no Novo Jogo+. De cumprir contratos de NPCs a ir atrás de chefes secretos, há distrações de sobra pelo mundo de Faelduum.
Existe um cuidado notável com o balanceamento do jogo: nem muito fácil, nem de se descabelar, a dificuldade almeja o ponto doce do “desafio justo”. Bloquear e esquivar são ações exigidas do jogador a todo momento, mesmo ao enfrentar inimigos simples, e você sempre aprende com os erros, sendo recompensado pela perseverança.
E sim, as “fogueiras” – ou melhor, os pontos de salvamento – estão presentes. O mesmo vale para as “almas”, aqui chamadas de essências, que atuam no lugar dos tradicionais pontos de experiência. Quando o protagonista morre, é preciso retornar ao local da queda para reconquistar o XP antes de seguir em frente.
Soulsvania de respeito
Característica indispensável de qualquer metroidvania que se preze, a exploração é o que dita o ritmo de Mandragora e nos incentiva a revisitar áreas já exploradas à medida que destravamos novas habilidades de travessia. Por vezes, você vai se sentir perdido, mas nunca desamparado, já que o mapa cumpre bem seu papel ao destacar zonas de interesse e nos direcionar ao próximo objetivo.
Não há nada mais gratificante do que ser recompensado em um jogo pelo trabalho “extra”, não é mesmo? E Whispers of the Witch Tree faz isso muito bem. Baús com armas e equipamentos melhores, dinheiro e matéria-prima valiosa são algumas das maneiras que Mandragora encontra de reconhecer o esforço dos jogadores curiosos.
Ainda sobre os elementos de metroidvania, a exploração em perspectiva 2.5D também é vertical e traz desafios de plataforma inventivos, uma sacada bem-vinda para diversificar a jogabilidade mais centrada no combate. No entanto, os obstáculos, apesar de exigirem precisão nos movimentos, não são tão complexos quanto os de um Ori and the Will of the Wisps, por exemplo, que é referência do gênero.
Além disso, como é de praxe em jogos do estilo, é comum se deparar com paredes destrutíveis e caminhos ocultos, que muitas vezes passam despercebidos por quem se guia somente pelos indicadores do mapa. É como se cada área aberta de Faelduum guardasse pequenas dungeons, numa dinâmica que lembra um pouco o esquema e o senso de descoberta de Diablo.
Mundo em declínio
Mandragora não tem nada de soulslike quando se trata de contar sua história e dá ênfase aos muitos diálogos entre seus personagens (todos adaptados em português do Brasil, vale dizer), sendo quase sempre conduzido por cutscenes desenhadas à mão. Há documentos e arquivos a serem descobertos, mas eles só servem para dar mais contexto sobre uma narrativa que já está sendo contada.

O jogo passeia pela jornada de um inquisidor em sua busca para selar a Entropia, uma força sobrenatural usada por Arquimagos para controlar o mundo, cujo poder, ao ser libertado, abriu portais e despertou monstros de outras dimensões. Você, como um dos herdeiros do espírito de Mandrágora, deve expurgar a corrupção que assola todo o território.
Apesar de ter sido redigido por Brian Mitsoda, o escritor de Vampire: The Masquerade – Bloodlines, confesso que o roteiro não me pegou tanto. Percebo que, pelo fato de o título ser mais voltado à exploração e ao combate, não há espaço para um desenvolvimento tão profundo da história.
Bonito, mas pouco inspirado
Por mais que Whispers of the Witch Tree tenha uma ambientação bem bacana, com um estilo de arte que me lembrou Prince of Persia: The Lost Crown e certas produções da Vanillaware, vide o clássico Dragon’s Crown, o design de inimigos e chefes fica bem aquém.
A estética de fantasia medieval é até bem aplicada, sobretudo na composição dos cenários, mas faz pouco para se diferenciar de outros games com a mesma premissa. No fim das contas, o que se vê é um título que não se esforça muito para fugir de clichês, com chefes pouco originais, isto é, concebidos numa roupagem genérica, algo incomum para jogos independentes em que o céu é o limite em termos de liberdade criativa.
Vale a pena?
Mandragora: Whispers of the Witch Tree é um soulsvania honesto, que respeita as convenções do gênero e compreende o que torna a junção desses estilos tão especial, ainda que tenha um design de personagens pouco inspirado. Combate e exploração fluem em sintonia e são os elementos que conduzem a experiência do começo ao fim. A história, entretanto, fica relegada ao papel de coadjuvante.
Nota: 80
Pontos Positivos (prós):
- Combate tem peso e traz muitas possibilidades;
- Mundo amplo e interconectado;
- A exploração sabe como recompensar o jogador;
- Sistema de progressão robusto;
- Não economiza em conteúdo.
Pontos negativos (contras):
- Faltou originalidade para compor o design de monstros e personagens;
- A história tem seus momentos, mas no geral é esquecível.
Mandragora: Whispers of the Witch Tree foi gentilmente cedido pela Primal Game Studio para o propósito de análise no PS5 Pro. O jogo já está disponível no PC, PS5 e Xbox Series S e X, com uma versão também anunciada para Nintendo Switch.
Fonte ==> TecMundo