Nesta quarta-feira (23), a Nintendo finalmente confirmou o preço oficial sugerido para o Switch 2 no Brasil — nada menos que R$ 4.499,90, sem jogos. O conjunto mais completo, que inclui apenas a edição digital de Mario Kart World, será vendido por R$ 4.799,90, enquanto o título separado custará R$ 500. Conforme esperado, a notícia não demorou para polemizar entre os jogadores brasileiros, que se manifestaram contra a gigante japonesa nas redes sociais.
O preço oficial do Switch 2 não é exatamente uma surpresa para o consumidor nacional, especialmente após o controverso anúncio do PS5 Pro sendo vendido R$ 6.999. Desde então, quase sempre em tom sarcástico, a conversão estimada para novos consoles é uma simples multiplicação em 10 vezes. Contudo, cada vez mais, a piada parece ter se tornado norma, mesmo a contragosto dos usuários.
No caso do Switch 2, a precificação ainda tem amparo em diversos fatores: aumento de potência e custo de fabricação mais caro; variação do dólar; taxas de importação; e por aí vai. Discutivelmente, até este ponto, muitos usuários entendem que os avanços — que aproximaram o console híbrido à potência de um PlayStation 4 — justificam o valor cobrado pelo hardware portátil da Nintendo. Porém, é seguro dizer que o aumento no preço dos jogos era algo bastante inesperado até para os fãs mais ávidos da Big N.
Por que os videogames estão mais caros?
Em 2025, falar sobre instabilidade nos mercados financeiros internacionais quase soa redundante. O tópico em questão praticamente não sai das manchetes, graças a uma série de mudanças nas taxas e tarifas aplicadas tanto pelos Estados Unidos quanto pela China, entre diversas outras potências. Conforme esperado, essas medidas e contra medidas também causaram instabilidades em muitas indústrias — e a dos jogos não saiu ilesa.
Tratando-se de um nicho bastante sensível a esse tipo de mudanças, a indústria dos jogos funciona como um híbrido entre entretenimento, desenvolvimento de softwares e também de hardware. Cada um desses setores exige atenção em diferentes aspectos — sofrendo, por exemplo, com a instabilidade do dólar —, mas a produção de componentes eletrônicos têm sido uma das principais questões do momento. E, claro, isso afeta diretamente a Nintendo, e o Switch 2.
A instabilidade de preços, taxas e custos nas fábricas de componente gera incerteza nos custos de produção, algo que prejudica as empresas no primeiro momento, mas logo se reflete nos consumidores. No caso da Nintendo, a empresa revelou que o Switch 2 já possui uma fila de espera de 2,2 milhões de unidades apenas no Japão — o único país em que o console é vendido mais barato. Segundo a empresa, o número supera por uma grande margem o esperado, e o possível de ser entregue no dia planejado para o lançamento, 5 de junho.
Para termos comparativos, o primeiro Switch foi um grande sucesso da Nintendo, mas vendeu “apenas” 360 mil unidades no primeiro mês. Diante da demanda surpreendentemente maior, a tendência é que os preços se mantenham altos em mercados internacionais, com possibilidade, inclusive, de aumentar no mercado secundário — como foi durante o lançamento do PlayStation 5, em 2020, apesar do contexto ser outro.
E como isso afeta os jogos?
No caso dos jogos, o cenário não é tão diferente. Com o avanço e a maior integração de áreas no desenvolvimento de títulos, a tendência é que os jogos se tornem mais custosos. Em projetos maiores, o número de colaboradores pode facilmente ultrapassar as centenas, envolvendo programadores, atores, artistas, revisores e inúmeros outros profissionais em variadas etapas do processo. Por fim, há custos de licenças, tecnologias e até mesmo o marketing. Todos esses fatores são diretamente afetados pela variação do dólar, além da própria inflação.
Em paralelo, é importante avaliar os modelos de negócios mais modernos utilizados na indústria, que forçam os jogos a se tornarem cada vez mais rentáveis — por vezes, em detrimento de sua própria qualidade. Muitas vezes, esse problema se dá pela necessidade de gerar lucro aos acionistas, a fim de continuar garantindo investimentos para futuros projetos.
Tratando do mercado nacional, ainda há o agravante das taxas e impostos, além da própria conversão direta do dólar. Todos esses fatores têm pressionado o consumidor nacional, o afastando cada vez mais deste lazer — ou, pelo menos, do seu aproveitamento legal e legítimo.
Mas afinal, quanto vale um jogo da Nintendo?
Preferências artísticas deixadas de lado, há uma certa descrença entre muitos jogadores quanto ao valor (e não o preço) atribuído aos jogos da Nintendo. Nesse viés de pensamento, muito se discute quanto aos custos de produção de cada título. Enquanto muitos jogos Triple AAA investem centenas de milhões de dólares em atores, capturas de movimento, dublagem e tecnologias de ponta, a Nintendo adota uma abordagem mais inovadora na jogabilidade e nos gráficos.
Com uma apresentação cinemática e visuais realistas, os tais jogos “hollywoodianos” seguem com uma faixa de preço beirando aos US$ 70, além de estrearem em múltiplas plataformas. Já os exclusivos do Switch 2 podem chegar a US$ 90 com gráficos mais simples — em alguns casos, sem nem mesmo possuir legendas em português brasileiro ou conteúdo adicional, sendo apenas a versão base.
Notavelmente, essa percepção também pode ser derivada de um preconceito artístico, em que o hiper-realismo dita o padrão de qualidade ou evolução — essa discussão é antiga, recursiva e datada, ainda mais no caso dos videogames. Outro fato ofensor é o desconhecimento de como funciona a indústria de jogos, cuja transparência depende de informações internas, vazamentos ou de comunicados oficiais dos desenvolvedores.

A verdade é que, embora os visuais não sugiram isso, a Nintendo não economiza na produção dos seus títulos por lucro. Segundo a Forbes, The Legend of Zelda Breath of The Wild pode ter custado mais de US$ 100 milhões, sendo um dos títulos mais vendidos e importantes do Switch. É claro, nem de longe o número compete com o orçamento astronômico de The Last of Us Part 2, que chegou na mesma época para o PlayStation 4 e custou US$ 220 milhões para ser produzido. Contudo, deve-se comparar o tamanho de ambas as empresas: a Sony é estimada em US$ 145 bilhões, e a Nintendo em US$ 82,8 bilhões — uma diferença bastante relevante para analisar os investimentos.
Apesar de soar estranha para parte do grande público, a estratégia conservadora da Nintendo, em partes, também a protegeu das várias ondas de demissões em massa na indústria dos jogos durante os últimos anos. Com apenas uma reestruturação específica nas operações na Nintendo da América, que resultou em 120 demissões, a empresa conseguiu expandir seu quadro de funcionários entre 2023 e 2024. As contratações, no entanto, podem estar relacionadas ao desenvolvimento do Switch 2 e de seu ecossistema.

Por outro lado, voltando aos valores financeiros, é importante reforçar que a mera precificação ou apresentação de um jogo não desmerece seu valor como arte — seja ele caro, ou muito barato. Entretanto, quando analisado sob a ótica de um produto ou de seu custo-benefício, a situação muda, já que este é comercializado com uma margem de lucro planejada. O preço final, em suma, depende de muitos fatores, mas pode ser ajustado conforme o retorno esperado pela empresa.
No Brasil, a Nintendo estipulou um preço que supera até mesmo a conversão direta do dólar, que vale cerca de R$ 5,71, durante a elaboração desta matéria. Assim, Mario Kart World será vendido por R$ 500 em sua versão base, quando poderia seguir o padrão norte-americano convertido para R$ 455. Antes de apontar as taxas como culpada, vale lembrar que a Steam sugere a conversão de US$ 1 para R$ 3,49, justamente para considerar a realidade do mercado nacional.
Novos preços podem tornar jogos da Nintendo em uma espécie de grife
Ainda que se justifique os novos preços da Nintendo como algo inerente ao valor da marca, considerando todo seu histórico de sucesso e inovação, há de se considerar suas consequências. O aumento do preço médio dos jogos para toda a indústria já era esperado e discutido há bons meses, com alguns títulos avançando timidamente a barreira dos US$ 70. Com o novo patamar sugerido pela Big N, de US$ 80 para versões-base digitais e US$ 90 para as físicas, futuros lançamentos da empresa podem se tornar uma espécie de grife para muitos jogadores — e se tornar padrão para a concorrência.
Se essa ideia de “grife” parece estranha no papel, saiba que uma versão dela já foi até mesmo utilizada na prática. Durante a crise dos jogos, lá em 1983, a Big N lançou o “Selo de Qualidade da Nintendo”, com objetivo de assegurar o público na hora da compra. Em suma, o principal objetivo era destacar os jogos licenciados dos milhares de outros títulos genéricos ou piratas, que acabaram inundando o mercado durante aquela década.

Exclusiva, a seleção era feita manualmente pelo então presidente da empresa, Hiroshi Yamauchi, durante a geração do NES — Nintendo Entertainment System, o “Nintendinho”. A partir do SNES, o Super Nintendo, a certificação passou a se chamar “Selo Oficial da Nintendo”, sendo somente garantida para jogos devidamente licenciados. É claro, esses títulos certificados costumam ser mais caros.
Acesso limitado aos jogos da Nintendo
Voltando a 2025 e ao Switch 2, é seguro argumentar que, embora não seja repentino, esse aumento de preços certamente não era esperado para a Nintendo. Em especial, a empresa é conhecida por não reduzir o preço de seus jogos, mesmo após anos de lançamento, além de não os levar para outras plataformas. Dessa maneira, o acesso aos títulos se dava apenas pelos seus consoles ou por meios ilegais — o que restringe seu acesso, mas também protege suas vendas.

Com a escalada de preços, o acesso aos jogos da Nintendo pode se tornar ainda mais limitado e exclusivo para os jogadores com maior poder aquisitivo. Certamente, isso não implica na qualidade dos títulos, mas pode manchar a imagem de uma empresa conhecida por gerações por ser voltada para toda a família. Somado ao preço do próprio Switch 2, mesmo em vista às suas melhorias, as mudanças podem soar contraditórias para os fãs de longa data.
E essas decisões não surpreenderam apenas o público, mas também a antigos rivais. Tratando do maior foco em hardware do Switch 2, aprimorado para receber jogos mais robustos e atender demandas do público, o ex-presidente da Sony Worldwide Studios, Shuhei Yoshida, comentou: “Para mim, essa foi uma mensagem um tanto contraditória da Nintendo”, afirma. “Eles sempre foram conhecidos por criar novas experiências de jogo, não apenas por tornar tudo melhor.”
Uma nova Nintendo?
Talvez, frente às mudanças no mercado, a Nintendo também esteja se adaptando para uma nova fase — quem sabe, mais alinhada com seus competidores de longa data. No entanto, independente de qual empresa finalmente cobre US$ 100 por um título pela primeira vez, há de se refletir quem é o público-alvo, especialmente para aqueles que defendem a inclusão dos jogos como arte.
À medida que os preços se distanciam da realidade econômica da maioria, a arte arrisca deixar de ser expressão acessível para se tornar produto de luxo — e isso também vale para os jogos. Em muitos casos, a barreira do valor transforma o que deveria ser cultura compartilhada em símbolo de exclusividade, não por mérito artístico, mas por restrição financeira.
Neste tópico, enquanto se discute adaptação, vale lembrar que a maioria dos exclusivos da Xbox ou da PlayStation, aos poucos, estão estreando em outras plataformas ou serviços de assinatura. Enquanto isso, a Nintendo segue com um modelo bastante protecionista, e não oferece uma alternativa ao nível do Game Pass ou PlayStation Plus, trazendo lançamentos ou jogos premium por preços mais acessíveis.
Comunidade gamer se revolta com preço do Switch 2
Diante da revelação dos preços oficiais, bastante surpresa, a comunidade gamer brasileira se manifestou nas redes sociais. Milhares de publicações criticavam a decisão da Nintendo, com certa parcela questionando até mesmo a viabilidade do Switch 2 na realidade financeira do mercado nacional.
Para falar do assunto, o Voxel entrou em contato com o criador de conteúdo e nintendista Rodrigo Coelho, que é dono do Canal Coelho no Japão e sócio da Nuntius Games. Com milhares de seguidores que são fãs da Big N, ele afirma: “eu tô com medo de como vai ficar a situação [da] Nintendo aqui, para nós,” confessa, “há anos ajudo a fomentar uma comunidade que ama esses jogos e que é a minha paixão desde criança, a gente claramente quer ver essa comunidade crescer no Brasil, mas [cobrar] R$ 440 por jogo, R$ 500 nos casos mais caros, é proibitivo,” ele pondera.
Preço praticado é uma coisa, preço sugerido é outra.
Minha esperança é justamente essa. Nintendo anuncia um preço sugerido, mas na pratica a gente consegue achar nos grupos um valor muito menor pic.twitter.com/9y6xiYQCBo
— Coelho no Japão 🇯🇵🇧🇷👾⛩- NintendoBarato.com.br (@rodrigocoelhoc) April 23, 2025
Coelho ainda especula que a Nintendo poderia explorar outras alternativas para evitar a polêmica, como conseguir vender o Switch 2 e seus jogos por preços menores que o sugerido, ou até mesmo localizar a eShop para a realidade do mercado nacional. Do contrário, a empresa pode encarar problemas: “Sinto que o crescimento de 20% em quatro anos que a Nintendo teve no nosso país pode ser bastante impactado.”
A página de notícias e memes sobre o mundo dos jogos com milhares de seguidores, Sucumba Games, declarou ao Voxel: “”Estava pensando em comprar o Switch 2,” contextualiza, “a Nintendo nos últimos quatro anos tem tido uma boa reaproximação com o Brasil, Legendando e até dublando alguns jogos em PT-BR”. Logo, conclui: “mas [sugerir] R$ 500 por um jogo é algo inaceitável e até nojento”.
Enfáticos, os responsáveis pela página afirmam: “a Big N está fazendo de trouxa os consumidores que comprarem isso [jogos do Switch 2],” dispara, “se for para ficar assim melhor ir embora novamente do Brasil.”
Nintendo lançou o 1° jogo onde a versão base custa R$ 500 no Brasil
Preço não foi localizado e está ACIMA da cotação do Dólar, se você compra essa merda você é um TROUXA. pic.twitter.com/AQ90lxRAKJ
— Sucumba Games (@SucumbaGames) April 23, 2025
O perfil Senhor Linguiça, que traz notícias sobre jogos para quase 23 mil seguidores, também afirmou ao Voxel: “A decisão da Nintendo de elevar o preço dos seus jogos acima de suas concorrentes é um caminho perigoso,” afirma, “claramente motivado pelo sucesso estrondoso do Nintendo Switch 1.”
Avaliando o caso, o criador de conteúdo sugere: “Para o brasileiro, fica ainda mais complicado consumir os seus produtos, e eleva ainda mais o descontentamento dos fãs,” explica, “com preços tão acima do mercado, não é surreal pensar que a empresa [Nintendo] poderá deixar o Brasil no futuro.”
Pirataria já está pronta para o Switch 2
Mesmo antes do lançamento oficial, o Nintendo Switch 2 já pode ter preocupações em relação à pirataria — e ferramentas como o MIG Flash podem desempenhar um papel central nesse cenário. De acordo com informações recentes da cena hacker, o dispositivo pode ser adaptado para simular o funcionamento de cartuchos do novo console, potencialmente sem necessidade de modificação por software ou hardware.
Atualmente, o MIG Flash é usado no Switch original como um cartão de desbloqueio para carregar firmwares customizados. No entanto, a ferramenta MIG Dumper, também associada a esse ecossistema, permite fazer a cópia completa do conteúdo de um cartucho do Nintendo Switch 1, trazendo seus dados diretamente para outro dispositivo. Como os cartuchos do Switch 2 parecem manter as mesmas dimensões físicas dos atuais, alguns usuários já especulam que será possível usar o MIG Flash para “emular” esses cartuchos no novo console.
Na teoria, o processo é bem direto ao ponto: o conteúdo de um jogo do Switch 2 seria extraído e, em seguida, transferido para o MIG Flash, que teria o firmware atualizado para simular perfeitamente um cartucho legítimo. Isso incluiria as chaves de autenticação e qualquer outro mecanismo de verificação necessário, tudo sem depender de desbloqueios via software ou alterações no hardware do Switch 2.
Caso esse tipo de modificação se confirme funcional, a Nintendo pode enfrentar um desafio significativo de segurança já nos primeiros meses após o lançamento do novo console. A empresa ainda não comentou oficialmente sobre o assunto, mas o histórico da plataforma e o ritmo acelerado da cena de modding indicam que medidas mais robustas de proteção podem ser necessárias para mitigar esses riscos.
Switch 2 terá futuro no Brasil?
Mesmo considerando fatores como alta do dólar, custos de produção e impostos, o valor final cobrado pelo Switch 2 e seus jogos ultrapassa o razoável para a realidade econômica nacional. Com títulos chegando a R$ 500 e sem alternativas acessíveis como serviços de assinatura ou localizações justas na eShop, muitos consumidores se sentem excluídos, alimentando críticas à suposta postura “elitista” da empresa, que historicamente se posicionava como voltada para toda a família.
É nesse vácuo de acessibilidade que alternativas como a pirataria, tão temida pela Nintendo, encontra terreno fértil. Longe de ser justificada ou incentivada, ela se impõe como resposta a um mercado que parece ignorar as limitações de seu público. A rápida movimentação da cena hacker, que já aponta métodos para burlar o sistema antes mesmo do lançamento oficial do Switch 2, é um simples e claro reflexo direto da crescente insatisfação. Quando o preço de um jogo equivale a 1/5 de um salário mínimo, muitos usuários deixam de ver a aquisição legal como opção — e passam a vê-la como privilégio.
Na prática, o que se discute é o futuro da Nintendo como uma marca não apenas culturalmente relevante, mas também acessível. Se a empresa não se adaptar à realidade nacional, arrisca ver sua base de fãs encolher, não por falta de apreço aos seus jogos, mas por falta de condições legítimas para jogá-los.
Fonte ==> TecMundo