A Tesla deve acabar com o setor envolvido no projeto do supercomputador Dojo e demitir a equipe e o responsável pelo departamento, segundo pessoas familiarizadas com o assunto, abalando o esforço da montadora para construir um equipamento para desenvolver tecnologia de veículos autônomos.
Peter Bannon, que estava liderando o Dojo, está saindo e o CEO Elon Musk ordenou que o projeto fosse encerrado, de acordo com as pessoas, que pediram para não serem identificadas ao discutir. A equipe perdeu cerca de 20 funcionários recentemente para a recém-formada DensityAI, e os trabalhadores remanescentes do Dojo estão sendo realocados para outros projetos de data center e computação dentro da Tesla, disseram as pessoas.
A Tesla planeja aumentar sua dependência de parceiros tecnológicos externos, incluindo Nvidia e AMD (Advanced Micro Devices), para computação e Samsung para fabricação de chips, segundo as fontes ouvidas pela reportagem.
A ordem de Musk marca uma grande mudança para um programa que levou anos para ser desenvolvido, com o Dojo sendo posicionado como personagem central para o esforço multibilionário da Tesla para se destacar na corrida da inteligência artificial. Tesla e Bannon não responderam aos pedidos de comentário.
Depois que a Bloomberg publicou a reportagem, Musk confirmou a mudança de abordagem da Tesla, escrevendo no X que os chips de IA de próxima geração que entrarão nos veículos da empresa “serão excelentes para inferência e pelo menos muito bons para treinamento. Todo o esforço está focado nisso”.
As ações da Tesla chegaram a cair 0,7% na manhã desta sexta-feira em Nova York, antes do início das negociações regulares. Os papeis da empresa já desvalorizaram 20% este ano.
O Dojo é um supercomputador projetado pela Tesla usado para treinar os modelos de aprendizado de máquina por trás dos sistemas Autopilot e Full Self-Driving da fabricante de veículos elétricos, bem como seu robô humanoide Optimus. É baseado em um chip interno personalizado conhecido como D1 e foi destinado a ser usado no treinamento de modelos de IA.
O computador recebe dados de vídeo capturados pelos veículos e os processa rapidamente para melhorar os algoritmos da empresa. Analistas disseram que o Dojo poderia representar uma vantagem competitiva, com o Morgan Stanley estimando em 2023 que ele poderia eventualmente adicionar US$ 500 bilhões ao valor de mercado da Tesla.
A DensityAI, que está prestes a sair do modo sigiloso, está trabalhando em chips, hardware e software que alimentarão data centers para IA usados em robótica, por agentes de IA e para aplicações automotivas, entre outros setores, informou a Bloomberg esta semana. A empresa foi fundada por Ganesh Venkataramanan, ex-chefe do Dojo, e mais dois ex-funcionários da Tesla: Bill Chang e Ben Floering.
FUGA DE TALENTOS
A Tesla tem enfrentado um êxodo de empregados que ocupavam cargos importantes no ano em meio ao aumento da concorrência, à queda nas vendas e a uma reação negativa dos consumidores à atividade política de Musk.
Milan Kovac, chefe de engenharia do Optimus, e David Lau, vice-presidente de engenharia de software, saíram no início deste ano. A Bloomberg também relatou em junho que Omead Afshar, confidente de longa data de Musk, havia se desligado da empresa.
A fabricante de veículos elétricos fechou um acordo de US$ 16,5 bilhões no mês passado com a Samsung para garantir semicondutores de IA até 2033. O plano é que uma futura fábrica no Texas produza o chip AI6 de próxima geração da Tesla, diversificando o fornecimento para além da TSMC, principal fabricante de chips.
Folha Mercado
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Musk insinuou uma mudança estratégica durante a mais recente teleconferência de resultados trimestrais da Tesla, sugerindo que futuros planos da tecnologia interna da empresa poderiam convergir com a de seus parceiros. “Pensando no Dojo 3 e no chip de inferência AI6, parece intuitivamente que queremos tentar encontrar convergência ali, onde é basicamente o mesmo chip”, disse o bilionário.
O CEO da Tesla também deixou claro no início do ano passado que a empresa poderia descontinuar o Dojo e que poderia se apoiar mais em parceiros externos.
“Estamos seguindo o caminho duplo da Nvidia e do Dojo”, afirmou Musk em janeiro de 2024. “Eu pensaria no Dojo como uma aposta de longo prazo. É uma aposta que vale a pena fazer porque o retorno é potencialmente muito alto. Mas não é algo com alta probabilidade. Não é de forma alguma uma coisa garantida”.
Fonte ==> Folha SP – TEC