A morte do Papa Francisco na última segunda-feira (21) marca o fim de um período histórico: ele foi o primeiro líder da Igreja Católica nascido na América Latina e também um dos que mais falou sobre temas relacionados ao mundo da tecnologia.
Com o falecimento do antes cardeal argentino Jorge Mario Bergoglio, o TecMundo reuniu alguns dos pronunciamentos e discursos de Francisco a respeito de celulares, redes sociais e até inteligência artificial (IA). Em vários dos casos, a posição do Papa foi tida como surpreendente, atualizado sobre certos debates e equilibrando riscos e potenciais desses temas.
IA e robótica
Francisco foi um dos primeiros grandes alvos da IA generativa de imagens: uma foto do papa vestindo uma jaqueta de luxo fez muita gente acreditar que aquele era um registro real do pontífice e não uma criação artificial.
Antes disso, porém, ele já se mostrava antenado no tema. Em novembro de 2020, colocou IA e robótica entre as intenções de orações do Vaticano e citou como algo que “está na raiz da mudança de época que estamos vivendo“, enquanto a robótica “pode tornar o mundo melhor se unida ao bem comum“.
“Se progresso tecnológico aumenta a desigualdade, então não é progresso verdadeiro. Avanços futuros devem se orientar na direção de respeitar a dignidade da pessoa e da Criação. Rezemos para que o progresso da robótica e da IA estejam sempre a serviço do ser humano. Podemos dizer que ele seja humano”, disse o Papa.
Ele ainda citou que a IA poderia apresentar inovações importantes em setores como agricultura, educação e cultura, além de “um modo de vida aprimorado para nações e povos inteiros” a partir do crescimento da fraternidade humana e amizade social.
Porém, o Papa reforçou que o próprio uso da palavra “inteligência” em ?IA “pode se provar enganoso” e pediu rigor na supervisão desse setor. No texto “Antica et nova”, publicado no começo deste ano pelo Vaticano e escrito com base em vários discursos de Francisco, ele cita que essa tecnologia é sobrevoada pela “sombra do mal” em especial no uso militar.
Vício em celular
Em uma das últimas orações divulgadas do Papa, já em abril de 2025, ele disse que amaria se as pessoas “olhassem menos para as telas e se olhassem mais nos olhos uns dos outros“.
Já em 2019, Francisco subiu o tom e criticou o vício em dispositivos móveis durante a visita que recebeu de estudantes em Roma. Ele pediu aos jovens que “libertem da dependência” de celulares e comparou o uso ao de substâncias ilícitas.
“Os telefones celulares são um grande progresso de grande ajuda, e é preciso usá-los, mas quem se transforma em escravo do telefone perde a sua liberdade“, afirmou na ocasião. O papa alertou que o uso exagerado do aparelho “pode reduzir a comunicação a simples contatos” e prejudicar a vivência como um todo.

Dois anos antes, ele chegou a pedir que a Bíblia fosse tratada com tanta atenção quanto os aparelhos. “O que aconteceria se tratássemos a Bíblia como tratamos nossos celulares? O que aconteceria se nos voltássemos quando nos esquecemos? E se lêssemos mensagens de Deus na Bíblia como nós lemos mensagens no celular?”, afirmou.
Em outro discurso, ele falou aos fiéis da Praça São Pedro, no Vaticano, que a tecnologia estava separando famílias em um momento símbolo de união, que é a refeição à mesa. Na época, o Papa comentou que “uma família que nunca come junta, ou que nunca fala na mesa e só olha para a televisão ou o celular é dificilmente uma família. Quando crianças estão na mesa presas ao computador ou ao telefone e não se escutam, isso não é uma família, é uma pensão“.
Redes sociais
Em 2017, Francisco direcionou uma mensagem do Dia Mundial da Juventude para falar sobre plataformas digitais e a relação delas com o público adolescente. “Nas redes sociais, vemos rostos de jovens aparecendo em muitas imagens retratando eventos mais ou menos reais, mas não sabemos o quanto disso tudo é realmente “história”, uma experiência que pode ser comunicada e e dotada de propósito e significado”, discursou, citando também a quantidade de reality shows na televisão.
“Não se deixem levar por essa falta imagem da realidade! Sejam os protagonistas da sua própria história, decidam o próprio futuro“, finalizou o Papa. Dois anos depois, ele comentou que as redes servem “bem para nos conectar“, mas também “reforçar o nosso auto isolamento, como uma teia que pode nos prender” e levar a uma vida alienada da sociedade.
Com o seu sim Maria é a mulher que maior influência teve na história. Sem redes sociais foi a primeira influencer, a influencer de Deus. #Panama2019
— Apostolica Sedes Vacans (@Pontifex_pt) January 27, 2019
Ele também já aconselhou o jovem a “não permitir que algoritmos limitem ou condicionem respeito pela dignidade humana, ou excluam compaixão, piedade, perdão e, acima de tudo, a esperança de que as pessoas são capazes de mudar“.
Privacidade e internet no geral
Em 2019, o Vaticano lançou um aplicativo para tentar aproximar o jovem das orações. Chamado Click to Pray, ele foi endossado pelo próprio Papa em um discurso.
“A internet e as redes sociais são um recurso do nosso tempo, uma ocasião para estar em contato com os demais, para compartilhar valores e projetos e expressar o desejo de formar uma comunidade (…) A rede também pode nos ajudar a rezar em comunidade, a rezarmos juntos”, sugeriu.
O papa também falou em outra ocasião sobre a falta de privacidade na rede. “Enquanto atitudes fechadas e intolerantes em relação aos outros estão em ascensão, as distâncias, por outro lado, estão encolhendo ou desaparecendo a tal ponto que o direito à privacidade mal existe. Tudo se tornou uma espécie de espetáculo a ser examinado e inspecionado, e as vidas das pessoas estão agora sob vigilância constante“, explicou Francisco.
Sabia que é possível visitar um “gêmeo digital” do Vaticano sem sair de casa? Saiba mais sobre essa experiência tecnológica neste vídeo do TecMundo!
Fonte ==> TecMundo