Hiroshima e Nagasaki: câncer matou 1% dos sobreviventes – 14/08/2025 – Ciência

A imagem mostra um casal observando uma vasta área devastada, com muitos edifícios destruídos e terrenos vazios. O cenário é de destruição, com montanhas ao fundo e uma rede de proteção visível na frente. A atmosfera é de tristeza e reflexão sobre a devastação.

Cânceres causados pela radiação das bombas atômicas lançadas sobre Hiroshima e Nagasaki há 80 anos causaram ou ainda vão causar a morte de menos de 1% daqueles que inicialmente sobreviveram às explosões e à exposição à radiação, segundo estudo publicado no periódico Journal of Biological Physics and Chemistry.

Acredita-se que cerca de 140 mil pessoas em Hiroshima e 74 mil em Nagasaki morreram até o final de 1945 devido aos efeitos da explosão, do calor e do envenenamento agudo por radiação. Em uma cerimônia de 80º aniversário em Nagasaki no último sábado (9), o primeiro-ministro do Japão, Shigeru Ishiba, disse que é essencial transmitir memórias do “impacto brutal dos danos causados pelos bombardeios atômicos”.

A exposição a altos níveis de radiação aumenta o risco de câncer. No entanto, Philip Thomas, professor de gestão de riscos da Universidade de Bristol (Reino Unido), disse que a estimativa de seu estudo de que 3.100 dos 324 mil sobreviventes dos bombardeios atômicos morreram ou ainda vão morrer de leucemia ou tumores sólidos induzidos por radiação pode surpreender muitos.

“A pesquisa mostra que a radiação, embora perigosa, é uma causa mais fraca de câncer do que muitas pessoas pensam”, disse Thomas, cuja carreira anterior foi na indústria nuclear.

Thomas estendeu a análise da Fundação Oficial de Pesquisa sobre Efeitos da Radiação Japão-EUA, cujo Estudo de Tempo de Vida tem se concentrado em uma amostra de 87 mil sobreviventes desde 1950. Ao incluir dados adicionais de saúde e demográficos, sua análise abrangeu um total estimado de 324 mil pessoas nas duas cidades que sobreviveram aos efeitos imediatos das bombas.

O estudo utilizou uma variedade de técnicas matemáticas e estatísticas para extrapolar a mortalidade por câncer desde o final da década de 1940 até 2055, quando o sobrevivente mais jovem possível teria 110 anos. O risco de leucemia induzida por radiação começa a aumentar 2 ou 3 anos após a exposição e atinge o pico após cerca de dez anos, enquanto alguns tumores sólidos podem levar mais de 50 anos para se desenvolver.

“Mesmo os sobreviventes que receberam doses maciças de radiação viveram vidas notavelmente longas”, afirmou Thomas. Aqueles que absorveram 2,25 gray —mais de três vezes o nível que causa doença por radiação e cem vezes o limite anual permitido para trabalhadores nucleares na Grã-Bretanha hoje— morreram com uma idade média superior a 78 anos.

Amy Berrington, professora de epidemiologia do câncer no Instituto de Pesquisa do Câncer de Londres, disse: “Temores sobre riscos da radiação ionizante podem ser amplificados por alguns e minimizados por outros. É uma questão muito complexa. Mas as conclusões gerais de Thomas são amplamente consistentes com pesquisas anteriores sobre os riscos de câncer entre os sobreviventes de Hiroshima e Nagasaki”.

Mas a docente fez uma ressalva. “Precisamos ser muito cuidadosos ao extrapolar os resultados para outros contextos de exposição sem mais informações sobre as diferentes doses às quais a população foi exposta.”

De acordo com o Ministério da Saúde do Japão, dos 99.130 sobreviventes da bomba atômica restantes, 4.738 foram avaliados como elegíveis para receber pagamentos médicos especiais para doenças causadas pela radiação.

Ishiba disse em seu discurso no sábado que os bombardeios atômicos causaram problemas de saúde a longo prazo e que comunicar sua verdadeira natureza era “crucial como ponto de partida para todos os esforços em direção ao desarmamento nuclear”.

Berrington afirmou que uma descoberta tranquilizadora das pesquisas com sobreviventes das bombas atômicas foi que nenhum risco à saúde foi transmitido aos seus filhos, o que, segundo ela, estava entre os maiores temores das pessoas evacuadas durante a crise e os derretimentos na usina nuclear de Fukushima, no Japão, em 2011.

Um estudo com trabalhadores expostos a altos níveis de radiação após o acidente de Chernobyl em 1986 também não encontrou efeitos nas crianças nascidas posteriormente, de acordo com a professora.

Colaborou Harry Dempsey, em Tóquio



Fonte ==> Folha SP – TEC

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *