A startup de IA (inteligência artificial) Anthropic está adaptando seu chatbot Claude para pesquisadores e empresas de ciências da vida, em meio à corrida de grupos de IA para criar aplicações especializadas da tecnologia.
O grupo, sediado em San Francisco, informou nesta segunda-feira (20) que está integrando o Claude a ferramentas já usadas por cientistas, incluindo sistemas de gestão de laboratórios, plataformas de análise genômica e bancos de dados biomédicos, para agilizar tarefas demoradas como análise de dados e revisão de literatura.
A Anthropic, avaliada em US$ 170 bilhões em setembro, afirmou que a farmacêutica Novo Nordisk já usou seu modelo de IA para reduzir a documentação de estudos clínicos de mais de 10 semanas para apenas 10 minutos, enquanto a Sanofi informou que a maioria de seus funcionários utiliza o Claude diariamente.
A iniciativa ocorre em um momento em que empresas de tecnologia investem bilhões em produtos e modelos de IA, acreditando que a tecnologia pode beneficiar setores que vão da saúde à energia e educação.
O foco em ciências da vida é parte dessa tendência, com grandes empresas e startups apostando no potencial da IA para acelerar a descoberta de medicamentos e combater doenças.
Recentemente, a OpenAI e a Mistral anunciaram novas unidades dedicadas à pesquisa científica. Em fevereiro, o Google lançou uma ferramenta de “co-cientista” para auxiliar pesquisadores a formular novas hipóteses, e na semana passada disse que seu modelo aberto Gemma ajudou a descobrir uma nova potencial terapia contra o câncer.
“O que busco é trazer aos biólogos a experiência que engenheiros de software têm [com geração de código]”, disse Eric Kauderer-Abrams, chefe de ciências da vida da Anthropic. “Você pode sentar com o Claude e gerar ideias e hipóteses juntos.”
A empresa já obteve sucesso com sua ferramenta de codificação, Claude Code, que supera os concorrentes. Segundo Kauderer-Abrams, isso dá à Anthropic uma vantagem no setor de ciências da vida.
“Estamos muito mais focados em ampliar as capacidades dos cientistas e construir ferramentas que acelerem seus fluxos de trabalho do que outras empresas”, afirmou Kauderer-Abrams. Ele acrescentou que rivais tentam fazer o mesmo, mas também realizam ciência diretamente; alguns, como a spin-off da DeepMind, Isomorphic Labs, buscam desenvolver seus próprios medicamentos.
Até o momento, porém, nenhum fármaco descoberto por IA foi aprovado, e muitos falharam em ensaios clínicos. Um dos obstáculos é obter dados suficientes para criar algoritmos de uso geral capazes de resolver diferentes problemas.
Folha Mercado
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A Anthropic afirmou ter tornado seus modelos adequados para pesquisas farmacêuticas ao reduzir a frequência de “alucinações” e ao oferecer trilhas de auditoria para conformidade regulatória e a possibilidade de verificar cada insight em fontes originais.
Kauderer-Abrams acrescentou que a empresa também bloqueia solicitações relacionadas a agentes proibidos, que poderiam ser usados para fabricar armas químicas.
O avanço da Anthropic em ciências da vida acompanha recentes descobertas que mostram que grandes modelos de linguagem podem auxiliar na pesquisa científica. No mês passado, tanto o Google DeepMind quanto a OpenAI atingiram nível de medalha de ouro em competições prestigiadas de codificação.
Segundo Kauderer-Abrams, os modelos de linguagem podem aproveitar grandes conjuntos de dados biológicos existentes e públicos, como genômica e sequenciamento de proteínas, permitindo adaptar os modelos para a pesquisa científica.
“Em ciências da vida, esse é um campo em que praticamente todos concordam que podemos entregar resultados inegavelmente impressionantes”, disse Kauderer-Abrams.
Fonte ==> Folha SP – TEC