Lançada pela Netflix na última quarta-feira (23), Congonhas: Tragédia Anunciada é uma nova série documental que revisita uma das grandes tragédias da história da aviação nacional. Em três capítulos, ela mostra detalhes do incidente ocorrido no dia 17 de julho de 2007, quando o voo 3054 da TAM colidiu com um prédio da empresa.
Ainda considerado como uma ferida aberta para os familiares das 199 pessoas que morreram na ocasião, o evento levou a algumas mudanças na maneira como companhias aéreas atuam no Brasil. Ao mesmo tempo, passados quase 20 anos, ninguém foi responsabilizado judicialmente ou cumpriu pena pelos erros que levaram à tragédia.
Lembre o acidente retratado em Congonhas: Tragédia Anunciada
No dia 17 de julho de 2007, o voo 3054 da TAM (atual LATAM) partiu da cidade de Porto Alegre rumo ao aeroporto de Congonhas, em São Paulo. Chegando ao solo, o Airbus A320-233 não conseguiu frear na pista 35L e colidiu com um prédio da TAM Express e com um posto de gasolina.
Isso resultou na morte de 187 passageiros e tripulantes e de 12 pessoas que estavam no solo — o maior número registrado na história da aviação brasileira até então. Apurado pelo Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos, o caso teve seu relatório final divulgado em setembro de 2009.
Nele, a Força Aérea Brasileira concluiu que o acidente foi resultado de uma mistura de fatores. Além de o piloto responsável ter configurado de forma errada os manetes da aeronave, Congonhas também sofria com problemas de infraestrutura graves — entre eles, a falta de ranhuras nas pistas, que ajudariam o veículo a frear.
Além disso, a autonomia excessiva concedida a instrumentos de navegação e computadores fez com que a tragédia se acentuasse. Embora a Empresa Brasileira de Infraestrutura Aeroportuária (Infraero) tenha realizado um recapeamento da pista do aeroporto, concluído no dia 29 de junho do mesmo ano, as ranhuras conhecidas como groovings não foram aplicadas — algo que impediu o escoamento das águas das fortes chuvas que ocorriam na época.
Apesar dos alertas feitos por pilotos que usavam a estrutura, a situação acabou sendo ignorada até o dia da tragédia. Muito disso foi resultado daquele que ficou conhecido como “Apagão Aéreo” de 2006, marcado por longos atrasos e cancelamentos frequentes. Para impedir que a situação se acentuasse, as operações de Congonhas foram liberadas, mesmo em um momento nos quais suas pistas de pouso ainda estavam incompletas.
A aeronave usada também estava com um defeito no reversor de seu motor direito, que estava inoperante — algo que a fabricante Airbus afirmava não ser um problema, contanto que a questão fosse consertada em um prazo de 10 dias. O relatório final também concluiu que a presença de dois comandantes ao mesmo tempo gerou falhas logísticas nas tarefas de cabine que deveriam ter sido realizadas pela tripulação responsável.
Denise Abreu, então diretora da Anac, Alberto Fajerman, vice-presidente de operações da TAM, e Marco Aurélio dos Santos de Miranda e Castro, então diretor de segurança de voo da companhia, foram considerados os principais responsáveis pelo incidente. No entanto, todos foram absolvidos pela Justiça em 2015, que considerou que eles não agiram com a intenção de causar mortes.
O que mudou com a tragédia?
O relatório final da investigação, divulgado em 2009, também apontou que a TAM falhou em seus processos de treinamento. Além disso, a Agência Nacional de Aviação Civil (ANAC) foi considerada culpada por não ter fechado Congonhas diante das grandes chuvas que estavam acontecendo no dia — e a Infraero falhou ao liberar a pista de pouso sem que as ranhuras para o escoamento de água tivessem sido instaladas.
Como resultado do acidente do voo 3054, companhias aéreas passaram a ter que instalar em suas aeronaves alertas que indicassem quando manetes foram colocados na posição incorreta. Além disso, a administração de Congonhas reduziu as distâncias de pouso e decolagens, permitindo a criação de áreas de escape — e proibiu o uso de pistas sem o grooving.
O aeroporto também passou por reformas para evitar o acúmulo de água, reduziu a quantidade de autorizações de decolagens e pousos a cada hora, e houve um aumento na fiscalização da operação de companhias aéreas. Além disso, a Infraero intensificou a fiscalização de pistas, bem como aprimorou o treinamento de equipes de bombeiros responsáveis por resgates aéreos.
Diretor de Congonhas: Tragédia Anunciada diz que caso não pode ser esquecido
Em uma entrevista ao Splash, do UOL, o diretor Angelo Defanti afirmou que decidiu produzir a série em 2016, quando visitou o memorial às vítimas. Segundo ele, a estrutura em frente ao Aeroporto de Congonhas perdeu o significado, conforme as pessoas se esquecem da tragédia e de quem foi responsável por ela.
Ele também afirmou ter ficado chocado com a sucessão de erros cometidos na época, especialmente porque fica evidente que a colisão poderia (e deveria) ter sido evitada. “Não foi um erro isolado, mas uma sucessão de falhas gravíssimas. Conforme estudávamos, renovava-se nosso pasmo”, explicou.
Para Defanti, é preciso revistar essa ferida aberta da aviação nacional, bem como destacar o lado humano envolvido nela. O diretor também aponta que a atual administração de Congonhas, agora privada, traz novos riscos. Para ele, uma das maneiras de aumentar lucros é apostar em mais voos — equação que pode acabar resultando em novos desastres.
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Fonte ==> TecMundo