2025: o ano dos astronautas “presos” e resgatados do espaço

Barry "Buch" Wilmore e Sunita "Suni" Williams, os astronautas da NASA que estão "presos" no espaço após problemas com a nave Starliner, da Boeing

No meio do ano passado, dois astronautas integrantes da primeira missão tripulada da cápsula Starliner, da Boeing, passaram por momentos de tensão em órbita, quando problemas na espaçonave impediram que deixassem a Estação Espacial Internacional (ISS). Eles só conseguiram retornar à Terra em março de 2025, ano marcado por outros dois episódios de tripulações espaciais isoladas que chamaram a atenção do mundo.

Sunita Williams e Butch Wilmore, ambos da NASA, deveriam ficar apenas uma semana em órbita – e acabaram ficando 286 dias. Eles foram lançados em junho de 2024 para testar a cápsula Starliner, da Boeing, no primeiro voo tripulado do veículo. O plano inicial era uma missão de apenas oito a dez dias, mas falhas no sistema de propulsão da espaçonave impediram o retorno imediato, prolongando a estadia da dupla.

Barry “Buch” Wilmore e Sunita “Suni” Williams, os astronautas da NASA que permaneceram nove meses em missão prolongada no espaço após problemas com a nave Starliner, da Boeing. Crédito: NASA

O Teste de Voo Tripulado da Starliner, lançado em 5 de junho de 2024 no topo de um foguete Atlas V, da United Launch Alliance (ULA), a partir da Estação da Força Espacial de Cabo Canaveral, na Flórida, enfrentou vários desafios desde o início. 

A decolagem ocorreu após adiamentos,sendo o último por causa de um vazamento de hélio na cápsula, que acabou não sendo grave o suficiente para impedir a missão. Durante a viagem à ISS, outros vazamentos foram detectados, e uma anomalia em cinco dos 28 propulsores do módulo atrasou a acoplagem em mais de uma hora.

Em agosto, a NASA anunciou que Williams e Wilmore retornariam à Terra a bordo de uma cápsula Dragon, da SpaceX, junto com a tripulação da Crew-9, enquanto a nave Starliner vazia foi trazida de volta em setembro, por questões de segurança. No fim, os astronautas pousaram em segurança no Golfo da Flórida, recebidos pela equipe de resgate e até por golfinhos.

O episódio levou a NASA a rever o contrato firmado com a Boeing em 2014, que previa até seis voos tripulados para transportar astronautas de e para a ISS. Agora, o escopo será reduzido: a Boeing deverá realizar somente quatro missões tripuladas garantidas, enquanto as duas restantes ficarão como opcionais, dependendo da demanda operacional da estação espacial ao longo dos próximos anos.

Como é a reabilitação dos astronautas?

Entre os efeitos mais comuns das viagens espaciais de longa duração no corpo humano estão inchaço na cabeça, enfraquecimento das pernas, aumento da altura e perda de densidade óssea (saiba mais aqui). Para se readaptar à gravidade terrestre, os astronautas devem cumprir um programa de reabilitação de 45 dias estabelecido pela NASA em 2003.

De acordo com o protocolo, ao longo de um ano antes do lançamento eles enfrentam duas horas de treinamento pré-voo, três dias por semana. A rotina se intensifica durante o voo, com 2,5 horas de exercício em seis dias por semana. Os especialistas da equipe Astronauta Força, Condicionamento e Reabilitação (ASCR) são responsáveis pelo acompanhamento e execução do programa.

A astronauta da NASA Sunita Williams, engenheira de voo da Expedição 32, equipada com um cinto elástico, se exercita na Esteira de Resistência Externa com Suporte de Carga Operacional Combinada (COLBERT) no nó Tranquility da Estação Espacial Internacional.
A astronauta da NASA Sunita Williams, engenheira de voo da Expedição 32, equipada com um cinto elástico, se exercita na Esteira de Resistência Externa com Suporte de Carga Operacional Combinada (COLBERT) no nó Tranquility da Estação Espacial Internacional. Crédito: NASA

Os astronautas são testados quanto à aptidão funcional, agilidade, força isocinética e avaliação submáxima do cicloergômetro antes e depois do voo. As informações desses testes são usadas para prescrições de exercícios, comparação e avaliação dos programas de astronauta e treinamento. 

O programa de reabilitação de 45 dias já começa no mesmo dia do retorno e inclui sessões diárias de duas horas, sete dias por semana. O treinamento é personalizado, levando em conta a condição física, os exames médicos e até mesmo as atividades recreativas preferidas do astronauta.

China também teve taikonautas retidos em órbita

Em 6 de novembro deste ano, uma rachadura em uma escotilha da cápsula chinesa Shenzhou-20, provavelmente causada por detritos espaciais, tornou a nave insegura para reentrada, ativando protocolos de emergência inéditos para a China.

Após apenas alguns dias, as autoridades decidiram que os astronautas daquela missão iriam retornar na cápsula Shenzhou-21. Com essa solução, os integrantes da missão Shenzhou-21 chegaram a ficar mais de uma semana à deriva, sem qualquer meio de escape de emergência da estação, até a nave Shenzhou-22 chegar lá.

Astronautas da Shengzhou 20 em órbita
Astronautas da missão Shenzhou-20 trabalhando na estação espacial Tiangong – trio precisou esperar para voltar para casa por causa de acidente com lixo espacial. Crédito: Agência Espacial Tripulada da China (CMSA)

Embora todo o processo tenha sido muito mais rápido que o resgate dos astronautas da Starliner, a situação expõe um ponto crítico na segurança das missões espaciais chinesas. Especialistas alertam que a ausência de uma cápsula pronta para retorno colocou os astronautas em risco desnecessário, criando uma vulnerabilidade que não deveria ocorrer em operações desse tipo.

A missão Shenzhou-21 chegou à estação Tiangong em 31 de outubro, lançada pelo foguete Long March 2F. para substituir os membros da Shenzhou-20, que deveriam retornar à Terra em 5 de novembro. A expectativa era uma transição tranquila entre as tripulações, mantendo sempre um veículo de retorno disponível, como de praxe.

O problema começou quando um fragmento de lixo espacial atingiu a cápsula Shenzhou-20. Testes identificaram uma rachadura na janela de observação, o que levou ao cancelamento do retorno planejado. A equipe da Shenzhou-20 acabou voltando à Terra usando a cápsula da Shenzhou-21, em um procedimento improvisado que garantiu o pouso seguro em 14 de novembro.

Leia mais:

  • Astronautas “presos” no espaço: histórias de sobrevivência e resiliência em órbita
  • Óculos de realidade virtual podem reduzir o enjoo espacial perigoso em astronautas
  • Primeiros astronautas em Marte devem procurar sinais de vida

Todo esse cenário demonstra a complexidade das missões tripuladas de longa duração e a necessidade de redundâncias, como naves reserva e protocolos de contingência, para garantir a segurança das tripulações.

Esses três episódios reforçam que, mesmo com tecnologias avançadas e décadas de experiência, o espaço continua imprevisível. Cada situação de “aprisionamento” de astronautas serviu para testar e aprimorar procedimentos de emergência, tanto estadunidenses quanto chineses. Ao mesmo tempo, esses casos mostraram que a cooperação entre tripulantes, engenheiros e centros de controle é essencial para transformar riscos orbitais em histórias de sucesso, garantindo que todos possam voltar à Terra em segurança.

O post 2025: o ano dos astronautas “presos” e resgatados do espaço apareceu primeiro em Olhar Digital.





Fonte ==> Olhar Digital

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *