A nova era do procurement como tecnologia, comportamento e inteligência de dados estão redefinindo a gestão de suprimentos no Brasil

A área de procurement, historicamente tratada como um setor operacional voltado à compra e negociação, vive uma transformação profunda no Brasil e no mundo. A digitalização acelerada, a incorporação da inteligência artificial e a adoção de métodos avançados de análise de dados reposicionaram o suprimento como elemento fundamental da estratégia empresarial. Cada vez mais, as organizações dependem da eficiência do supply chain para sustentar competitividade, reduzir riscos e garantir continuidade operacional.

De acordo com estudos da consultoria Gartner, mais de setenta por cento das grandes corporações no mundo já utilizam ferramentas baseadas em inteligência artificial para apoiar decisões de compras e planejamento. No Brasil, setores como saúde, agronegócio, energia e indústria passaram a depender diretamente da precisão tecnológica para gerenciar estoques críticos, prever demandas e reduzir desperdícios.

Para especialistas do setor, o procurement moderno exige uma combinação de visão analítica e sensibilidade comportamental. Juliano Braga, administrador, especialista em gestão empresarial, supply chain e autor do livro Procurement na Mão, explica que a tecnologia ampliou o papel do gestor, mas não substituiu o elemento humano. Segundo ele, o profissional atual precisa dominar dados, mas também entender de comportamento, liderança e tomada de decisão em cenários instáveis. Ele afirma que a inteligência artificial funciona como uma lente estratégica, permitindo decisões mais rápidas, seguras e integradas.

O impacto dessa mudança ficou evidente durante a pandemia de COVID-19, quando cadeias globais de abastecimento entraram em colapso e hospitais, indústrias e prestadores de serviços enfrentaram escassez inédita de insumos. Empresas que já utilizavam sistemas digitais conseguiram reagir com mais agilidade, enquanto equipes de suprimentos tiveram de assumir protagonismo estratégico, agindo em tempo real para garantir materiais essenciais.

Essa virada estimulou a adoção de automação, robôs de cotação, análise preditiva de demanda e ferramentas de big data. Levantamento da McKinsey mostra que corporações que investiram em tecnologias de supply chain registraram redução de custo operacional superior a vinte por cento e aumento de eficiência em mais de vinte e cinco por cento. O Brasil acompanha essa tendência, especialmente nos setores de exportação e infraestrutura.

Para Juliano, a evolução da área exige formação técnica abrangente e compreensão de novos modelos de governança. Em seu livro, ele discute temas como métricas, KPIs, compliance, estruturação de departamentos, blockchain aplicado à rastreabilidade e o papel da liderança comportamental para manter equipes engajadas e resilientes. Ele ressalta que o gestor de suprimentos precisa ser analítico, ético e capaz de dialogar com diferentes áreas do negócio, já que o supply chain é um dos poucos setores que conecta toda a organização.

A rastreabilidade por blockchain, por exemplo, tornou-se uma ferramenta cada vez mais relevante em setores regulados e na exportação agrícola. O Brasil, que lidera mercados globais de commodities, se beneficia de sistemas que garantem origem, integridade e conformidade ambiental. A adoção de práticas sustentáveis e a capacidade de comprovar processos por meio de dados fortalecem a imagem do país e ampliam sua competitividade internacional.

Essa convergência entre tecnologia, compliance e comportamento coloca o procurement como um dos pilares da economia moderna. O setor deixa de ser exclusiv Ti tiamente técnico e passa a ocupar espaço estratégico no planejamento corporativo. A inteligência artificial permite prever riscos logísticos, simular cenários e antecipar rupturas, mas é a liderança humana que transforma esses dados em ações consistentes.

Para especialistas, o futuro da área é híbrido e multidisciplinar. O gestor de suprimentos que se destaca é aquele que domina tecnologias emergentes, entende de comportamento organizacional e possui visão sistêmica. A tendência é que o procurement deixe de ser visto como apoio e se consolide como um dos principais motores de vantagem competitiva das empresas brasileiras.

Segundo Juliano Braga, esse movimento já começou. Ele afirma que o supply chain moderno exige integração plena entre estratégia, tecnologia e pessoas. Para ele, a inovação transforma o processo, mas é a liderança que sustenta o resultado. O procurement será, cada vez mais, um espaço de tomada de decisão de alto impacto, onde tecnologia e comportamento se encontram para moldar o futuro das organizações.

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